Falácia e Falésia

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De algumas histórias que conto, esse conto simplesmente me encanta. Diz-se o conto, que houve um tempo em que tudo se escolhia a esmo. Nesse tempo não havia rei, nem tampouco imperador, mas se tinha a estranha mania de sortear palavras para se resolver as contendas do povo.

Colocavam-se duas vasilhas ao centro das praças. Em uma punham-se verbos e na outra substantivos. Para qualquer situação o povo recorria às palavras. Funcionava assim: retirava-se primeiramente um verbo e em seguida um substantivo. A frase formada por essas duas palavras era aceita como a solução daquele problema.

Quando surgira e por quem fora idealizado tal fato ninguém sabe dizer, só o que sabemos é que o Professor Fagundes Teossócristo era quem cuidava da manutenção das palavras. Se necessário fosse substituía a palavra danificada por uma novinha.

O Professor Fagundes Teossócristo guardava todas as palavras existentes, separadas cada qual pela inicial e dispostas em caixas distintas. Em uma dessas idas para trocar as palavras das vasilhas da praça, deixou cair dentro de uma delas duas palavras começadas pela letra F. Sem saber quais caíram, deixou-as lá.

O problema foi que em uma contenda, dois cidadãos de distinta personalidade, obedecendo ao costume da época, foram até a praça para resolverem suas diferenças. O motivo de tal discussão surgira ao encontrarem simultaneamente uma moeda de ouro. Como não se podia dividir a moeda, a solução estaria nas vasilhas da praça.

O primeiro a retirar as palavras formou a frase: RECITAR FALÁCIA. O outro retirou a seguinte frase: CONSTRUIR FALÉSIA. Por mais incrível que possa ser, exatamente as duas palavras começadas com F que o Professor Fagundes Teossócristo deixou cair dentro das vasilhas.

Ambos contendores seguiram a risca as frases retiradas. O primeiro recitou falácia com tal ardor que se transformou no primeiro líder político daquele povo. O segundo entendeu que construir falésia, seria o mesmo que atacar verbalmente, de maneira constante e imprevisível, seu oponente. E assim desenvolveu a filosofia. A moeda ficou com o primeiro, usando o argumento que iria empregar a moeda em benfeitorias ao segundo.

Então assim formou-se a política através da FALÁCIA e a filosofia da FALÉSIA.

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